sexta-feira, 30 de abril de 2010

A menina que parecia a Amélie Poulain cortou o cabelo que nem o da Amélie Poulain. Mas tudo o que ela consegue parecer, agora, é um travesti.
Por que, diabos, ela se acha tão superior? Ontem estava com um sapato tão horrível que meus olhos doeram. Acho que ela é uma vadia. Pronto, falei.

Colheita feliz me deixou infeliz.

Quarta, eu super concentrada estudando no ônibus, indo pra faculdade, tive que ouvir a seguinte conversa (trecho):
-É, precisei de três dias pra ganhar uma plaquinha.
-Tem que colher todo dia né? Tenho melões e mais uns legumes lá.
-Tem que colher todo dia sim, alguns legumes demora mais tempo pra se conseguir.

Pessoas de 30 anos falando de colheita feliz indo pra faculdade. E isso foi metade do caminho. Achei que ia surtar. Acabei por não conseguir estudar. Aquilo realmente mexeu comigo. Onde está a dignidade das pessoas?

E eu que tinha vergonha do meu sanduíche de atum.

Esses dias, voltando da faculdade, estavam comendo umas bolachas nos bancos de trás do ônibus. Aí um dos garotos fala:
-Uma vez eu trazia bife pra faculdade. Mas tinha que ser uns dois, três, senão nem matava a fome.
Eu levo sanduíche de atum de vez em quando e sinto vergonha. Depois dessa nunca mais vou ter vergonha. Não que eu tenha algum tipo de preconceito com quem leva bife pra faculdade, sabe. É que é tão... er, isso mesmo.

Ela.

Terça eu sentei do lado da menina bonitinha. Achava que ela me esnobava apesar de ter elogiado meus desenhos na primeira vez em que sentei do seu lado.
Disse que a cortina sempre a irritou em todas as vezes que em sentou do lado da parede. Então ela abria a janela e jogava a cortina pra fora. "É que fica batendo na minha cabeça, sabe."
Contou que gosta de frio. Eu gosto, também, mas nem quis falar. Queria apenas ouvi-la. Seu cabelo preso num rabo -rabinho, pra falar a verdade. Sua blusa de malha cinza. Quase lhe disse que tenho uma parecida. Mas não falei nada, apenas sorria a cada comentário seu.
Depois veio a prova e no instante em que acabei ela também acabou. Não saímos juntas da sala. Ela ficou. Ainda bem, tive medo de que ela me perguntasse algo e eu não soubesse responder.

Ela é a verdadeira menina que me causa nostalgia. Mas só de costas. De frente ela parece tão... real.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ontem eu estava no ônibus, voltando da faculdade, e atrás de mim três pessoas conversavam sobre ganhar na mega-sena. O engraçado é que eu NUNCA me imaginei rica, NUNCA imaginei o que eu faria se tivesse muito dinheiro. Aí um falou que não iria contar pra ninguém. Eles ficaram falando disso muito tempo e eu decidi tentar pensar o que eu faria se tivesse dinheiro. Mas eu não conseguia pensar em nada. Acho que é porque no fundo eu não tenho ambição.
No final me restringi a isso:
1- ver o meu amor o mais depressa possível.
2- comprar todos os livros que eu quero.
3- viajar com o meu amor até enjoar.
4- comprar uma vaca.
5- comprar uma fazenda pra criar minha vaca.
6- gastar todo o dinheiro com coisas bobas, ficar pobre e escrever um livro.
Eu acho que não iria me deter nessas questões sociais. Meu egoísmo anda falando mais alto ultimamente.

É.

Quarta-feira eu cheguei na faculdade morrendo de fome e decidi ir naquelas máquinas de café e pegar um. Do lado tinha uma outra com salgadinhos. Coloquei minha moedinha de um real e nada. Apertei o botão e nada. Ela COMEU a minha moeda. Vadia! Tom ei meu café e passei fome. Quando cheguei na sala o professor estava entregando os trabalhos da aula passada. No meu estava estava escrito um REFAZER. Sim, eu entrei em desespero. Primeiro porque eu tinha demorado SÉCULOS pra escrever aquele maldito trabalho, espremendo as ideias até a última gota. Segundo porque eu NÃO VOU TER O QUE REESCREVER, NÃO VOU TER TEMPO E NEM VONTADE. Dois minutos depois descubro que há um trabalho para ser apresentado na próxima aula e eu nem sei por onde começar. Ótimo.


Mas eu tenho que falar da menina que parece (ou pelo menos parecia) a Amélie Poulain. Eu nunca tinha visto ela com o cabelo preso. Ontem ela estava com ele preso e parecia um travesti. Não que eu a achasse bonita com o cabelo solto, mas ontem várias coisas se revelaram. Ela é o tipo de pessoa que se acha superior, faz beiço e franze as sobrancelhas quando alguém faz uma pergunta repetitiva ou boba. Senta na frente, na sala, com as pernas cruzadas e o batom rosa perfeitamente passado nos lábios. Ela deve se achar muito inteligente. Talvez seja. Mas eu estou pouco me lixando se ela é ou não. Ando preferindo as pessoas menos intligentes. Elas sãos mais felizes, não ficam julgando todo mundo e nem são arrogantes. E, talvez o mais importante, fazem com que eu me sinta bem. Dificilmente eu me sinto bem do lado de uma pessoa inteligente, fico pensando se estou pronunciando as palavras corretamente ou se o que eu falei tem nexo. Que se d a n e.

Que viva a felicidade da ignorância.

domingo, 11 de abril de 2010

Hospital=tortura

Eu sou o tipo de pessoa que raramente fica doente ou sente uma dor muito forte. Mas quando essas coisas caem sobre mim é pra ferrar.
O fato é que quinta-feira eu senti uma picada no braço e achei que fosse de mosquito. Na sexta começou a coçar e inchou. No sábado de manhã o inchaço tinha duplicado, estava vermelho e dava até pra fritar um ovo de tão quente. Fui no posto perto da minha casa e, como eu já suspeitava, eles não fizeram droga nenhuma. Pois bem, decidi ir direto pro hospital. Esperei uma hora na recepção -isso que era com plano de saúde. O médico que me atendeu era muito novo, deduzi que fosse quase sem experiência. Ele olhou meu braço e disse "acho que deve ser de aranha, aquelas marrons". Cara, você acha que eu saí da minha casa, paguei dezoito reais pela droga da consulta pra ouvir você falar que acha? Se é pra achar alguma coisa eu posso fazer isso sozinha, em casa. Receitou-me dois remédios e disse que ia passar algo em cima da picada e que eu ia ter que ficar um tempo de observação. Só que ele não me falou que o "passar algo em cima" seria duas injeções. Fui pra sala de observação e um enfermeiro disse que uma era na nádega e a outra no braço, pediu qual eu queria fazer primeiro. Respondi que tanto fazia. Ele quis fazer na nádega. Tirei a calça e juro que não lembrava o quanto doía uma injeção na bunda. Aí então ele me mandou deitar pra fazer a injeção no braço. COMO ASSIM ELE ME MANDA DEITAR LOGO DEPOIS DE EU LEVAR UMA INJEÇÃO NA BUNDA? POR QUE ELE NÃO FEZ A DROGA DA INJEÇÃO NO BRAÇO ANTES E DEPOIS NA BUNDA? Bem, eu deitei e a cama ficava no sol. Eu já sou branca, é claro que ele não ia achar veia nenhuma com o meu braço no sol. Então ele resolveu aplicar a injeção no pulso. Era óbvio que não ia dar certo. Não deu, a veia estourou e doeu pra caralho. Ele pediu desculpa. Olhei pra ele muito séria e disse que eu tiro sangue sempre e que nunca ninguém estourou uma veia. Ele ficou mais meia hora pra achar outra veia e eu tive que ficar ouvindo piadas como "tu é tão branca que até tuas veias são brancas", "alguém já te disse que teu cabelo tá pegando fogo?" e "meu deus, como tu é sardenta, não pode ficar no sol". É cara, tu que me colocou no sol. Depois de ele ter feito as duas injeções me mandou sentar no corredor, disse que eu ia ficar um pouco cansada e sonolenta. Eu sentei e comecei a ficar tonta e tudo foi ficando preto e, obviamente, era o início de um desmaio. Não tinha ninguém no corredor. Eu levantei a cabeça e respirei o ar do hospital fingindo que era um ar puro. Deve ter funcionado porque logo passou. O mesmo cara das injeções veio e tirou minha pressão e mediu minha glicose. Ambas estavam baixas. Ele saiu e me deixou mais uma vez no corredor. Comecei a tremer. Veio uma enfermeira e me trouxe um chá terrivelmente quente e doce que eu quase derramei na minha roupa. Bebi. Mais vinte minutos e o cara passa pelo corredor e diz que já vão medir minha pressão e glicose de novo. Mais vinte minutos se vão e passa a enfermeira e diz que já vai medir. Mais vinte minutos. A mulher mede e diz que ambas subiram mas que eu tenho que esperar o médico. Vinte minutos. O médico vem e diz que a picada desinchou e que eu posso ir pra casa. Era mentira, não tinha desinchado porcaria nenhuma, mas é claro que eu concordei, queria ir pra casa.
Voltei pra casa, almocei e deitei. Caí no sono antes de completar um pensamento. É, ainda bem que o cara disse que eu ia ficar um pouco cansada e sonolenta. Já pensou se ele tivesse dito muito?

Hoje acordei com sono e a picada está melhor. Nunca mais vou pra hospital, meu pulso está roxo, minha bunda dói e meu braço continua duro.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Meu primeiro dia de trabalho.



Fato 1
Eu, sozinha no escritório, super concentrada no meu jogo de cartas no computador e aí aparece, do nada, um cara:
-Onde fica o jornal informante?
-Não sei
-A redação? Tu não sabe?
-Não ._.
-Aqui é o bairro Planalto?
-Não seeeeei.

O cara sai brabo. Mas que obrigação eu tenho de saber essas coisas?

Fato 2
Fiz uma cagada no trabalho, literalmente. Fazia três dias que eu não fazia o número dois. E aí veio a dor de barriga e eu não pude segurar. O cheiro não ficou agradável (quem é que faz cocô com cheiro bom?) e provavelmente meu chefe sentiu e deve ter pensado que, sei lá, era meu primeiro dia né, eu podia ter segurado...

Fato 3
17:30 eu saí e tinha que andar meio quilômetro pra pegar o ônibus pra faculdade. Eu recém tinha saído do trabalho e, quando olhei pra cima, vi um arco-íris no meio daquele céu azul e com sol. Aí pensei "como assim um arco-íris se nem choveu?" É, no mesmo instante começou a chover...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

1º de abril.

Ano passado minha mãe me dava todo mês o dinheiro pra pagar a escola. Eu guardava pra ir pra São Paulo. Não paguei uma mensalidade sequer (estudava em escola estadual então tanto fazia), mas dizia pra minha mãe que pagava (é, eu sei, muito feio). Era por uma causa justa.
Aí ontem minha mãe chegou pra mim e disse que precisava que eu ligasse na escola e pedisse o comprovante dos pagamentos das mensalidades pra declarar seiláoquê. Eu não liguei, é claro. Mas aí ela mesma resolveu ligar e pediu pra minha dinda passar lá esta tarde e pegar o tal comprovante. Minha dinda foi e, obviamente, a mulher da secretaria falou que eu não havia pago nenhuma mensalidade.
Sabendo que o melhor a fazer era contar a verdade, liguei pra minha mãe.
Eu: mãe, então, a dinda foi lá e a mulher disse que eu não paguei nenhuma mensalidade.
Ela: como assim?
Eu: pois é. É que eu guardava o dinheiro pra ir pra São Paulo.
Ela: hahaha, 1º de abril, sim, eu sei, agora pode contar a verdade.
Eu: mas eu tô contando a verdade!
Ela: HAHAHAHAHAH, que engraçado, mas me fala, o que aconteceu?
Eu: mãe, foi isso mesmo.
Ela: à noite conversamos.
Ela chegou em casa e disse que tinha confirmado com a minha dinda e que eu realmente nunca paguei. Meia hora de lição de moral e fim.

Um 1º de abril nunca teve uma mentira tão verdadeira na minha vida.
Ontem eu cheguei na sala de aula e sentei no fundo, do lado menina que me causa nostalgia. Ia ter filme. Eu nunca tinha falado com ela.
Ela: que lindo teu fichário.
Eu: obrigada *fazendo cara de simpática*
Ela: tu que fez?
Eu: sim *tiro meu caderno da faculdade igualmente encapado como o fichário com recortes de revistas*
Ela: nossa, esse também?
Eu: haha, esse também...
Ela: tu é muito estilosa, sabia? Eu não sei fazer nada, n-a-d-a mesmo. Todo mundo sabe fazer um monte de coisinhas bonitinhas e eu n-a-d-a.
Fiquei com pena dela. Não que eu realmente acreditei que ela não sabe fazer nada, mas enfim, ela me olhou com olhos tão... tristes.
Aí começou o filme e de vez em quando ela soltava uns comentários que eu não ouvia porque eles eram tão baixinhos, mas eu sabia que eram direcionados a mim.
Na hora do intervalo fui até a biblioteca e, sério, do que adianta ter a maior biblioteca da América Latina se em meia hora eu não consigo encontrar UM maldito livro? Cheguei atrasada pra aula e logo ela acabou. Novamente fui à biblioteca, dessa vez com essa menina que me causa nostalgia e mais uma outra menina que sempre senta do meu lado. Procuramos mais meia hora pelo livro e NADA. Comecei a ficar com raiva. Cheguei pra mulher que cuida do andar onde estávamos e falei que não conseguia achar. Ela, com toda a calma do mundo e sem simpatia alguma, olhou para mim e disse:
-Tem que selecionar UNISINOS quando se faz a busca no computador.

Não sei se a idiota fui eu por não ter pedido antes ou eles por não explicarem pros calouros como se faz a droga de uma pesquisa (é bem complicada, mesmo)

Ah, quando pesquisei novamente, dessa vez selecionado UNISINOS, adivinha? O livro era de outra biblioteca.